12/08/2010

Caleidoscópica


Quando criança, era feliz. Feliz por viver em uma família “normal”. Feliz por ter ao toque da mão, o pai, a mãe, os irmãos. Feliz pelos Natais que passaram juntos. Feliz ao ver-se vestida num vestido bordado em azul e o seu paizinho do lado festejando com ela o nascimento do Menino DEUS. Feliz, especialmente, pelos bons amigos que fez e ainda hoje os mantêm ‘presos’ (e libertos) ao coração.


Quando adolescente, em muitas coisas ela era intuitiva. Sentia o ambiente, conseguia desvendar a atmosfera íntima que a circundava. Talvez pela solidão em que deixava envolver-se mesmo quando rodeada de pessoas. Talvez pela timidez que a impedia de doar-se mais. Era prazeroso, permitir-se estar com pessoas, com gentes, conviver. Em contrapartida, ficava feliz em captar as impressões que os outros lhe passavam naqueles momentos de descontração, de conversa jogada fora, sem compromisso algum. Em silêncio, ia aprendendo muito sobre o mundo e as pessoas.


Quando adulta (isso parece um palavrão, não?) tornou-se passageira. Embarca e desembarca pelos vagões da existência, sem sinceramente saber em que momento é realmente ela mesma. Passageira de si. Sonhadora eterna. Já esteve no topo. Chegou a tocar as estrelas. Nos entretantos da vida, caiu vertiginosamente. Arrastou-se pelo fundo do poço. Encontrou uma fresta de luz. Decidiu sair de lá. E como a força de vontade é cinqüenta por cento da solução, aproveitou toda a conspiração do Cosmos a seu favor. Emergiu, veio à tona. Está aí, na luta. Na procura incansável para se conhecer em todos os seus mistérios.


Feliz? Intuitiva? Sonhadora? Guerreira? Lutadora? O que ela é, afinal? Cesbron diz que a personalidade assemelha-se a um perfume de qualidade: quem o tem é o único que não o sente. É... quem sabe não seja isso? Ela é muitas. Ela tem vários lados. Ela tem várias faces. Faces essas que são sentidas por aqueles que a vêem nos espelhos pelos quais é refletida. Para ela, seus reflexos são ininteligíveis e impalpáveis, sobretudo porque seu coração bate de uma alegria incomensurável. A alegria de viver. A alegria de estar viva. A alegria de ter ainda muito o aprender. A alegria de somar amigos nessa caminhada. A alegria de ser uma incógnita.


Importa bem pouco procurar um nome para o que ela é. Importa menos ainda procurar as razões que a levaram a ser assim ou assado. O que pesa bastante é continuar seu caminho sendo uma e muitas. Não há o que entender. Ela é mutante. Caleidoscópica. Fascina pelas multiplicidades em que se faz mulher, mãe, educadora, amiga...


Passou pelos furacões. Foi atropelada pelas atribulações. ( E outras virão certamente.) A incúria do destino não foi mais poderosa que ela. Resistiu e resistirá. Porque cada um é aquilo que deseja ser, se assim o quer de todo o coração. Uma nova e doce melodia diz que ela é o exemplo do solo que se vingou da vida com as mais belas flores. As marcas cicatrizaram. Saiu indene sua risada extravagante, seu humor, sua alegria de viver, estar viva e colher o melhor néctar que a vida lhe oferece: amigos. Daqui. Dali. De lá. De acolá. De todos os cantos. Alguns, de imediato. Outros, a longo prazo. Amigos especiais que iluminam sua vida e a enchem de paz. Amigos que invadem a alma como chuva caindo em terra seca e fazendo brotar o renovo.


Não permitiu que o eixo do seu mundo girasse apenas em torno do preto e branco. Lançou mão de uma paleta de cores e deu luz à sua obra, que tinha em mente definir a cor de sua alma. Com seu cúmplice, o pincel, pintou-se de abstrato aquarelado. E, sua alma, teimosa, insiste em antagonizar as cores da sua sorte. Navega soberana entre o azul e vermelho.


No sol de cada manhã, desabrocha-se em cores. Em seu infinito particular, guarda seus valores. Só a eles, deve satisfação. Desconhece todos os seus limites e capacidades. Também não teme conhecê-los. Não importa seu nome. Seu coração está decorado. Todo iluminado. Pouco vale sua tez. Seu coração está em festa. Assim como sua alma. Ela não tem nome. Ela tem a cor da VIDA. É súdita de si. De sua majestade.



***


Pessoas queridas,


“Porque um jardim jamais está completo, até nos dias mais cinzentos, uma flor desponta para nos lembrar que uma nova estação repleta de cor e de aromas doces se avizinha. Mesmo quando o frio e a penumbra parecem ter vindo para ficar, o nosso jardim nunca dorme... e em breve, explodirá numa paleta de cores que quase nos faz desejar que permaneça assim para sempre, florido e exuberante. Talvez a maior lição que a Natureza nos ensina, é que a transformação é a única coisa que permanece.”



Desconheço o autor, mas o admiro pelas belas e perfeitas palavras. Não quero jamais que meu jardim esteja completo. Quero sempre a doce surpresa da transformação constante.


Beijos todos!!!


Karine Leão