Acordara às duas e vinte da madrugada. De certo, nem dormira. Passeavam em seus devaneios, pensamentos que estavam engasgados. Não desciam nem sob a pior tortura mental. Resolvera escrever. Falar de hipocrisia e que a sua também fosse julgada e quiçá compreendida.
Abre parênteses. O mundo todo já sabia que ela vivera um amor incomparável. Sabido era por todos que esse amor se fora, e, mesmo corroída pela dor, ela insistia. Todo mundo já sabia que ela, mais uma vez, quebrara a cara. Era público e notório para o planeta inteiro que ela era diferente, sonhadora. Metade dela era sonhos flutuantes, pois “tudo que é pesado flutua no ar”. A outra metade abominava a velada hipocrisia que pautava a vida daqueles que não tinham o menor vestígio de amor-próprio, imagine então, amor pelo outro.
O universo em sua conspiração a favor, é claro, sempre a colocava em situações oscilantes, daquelas em que a linha tênue entre sanidade e loucura era sacudida.
Em suas novas experiências, depois do espelho quebrado, ela continuava INTENSA como sempre fora, não obstante, muito mais sensível do que antes.
A radicalidade do oito ou oitenta permeava as boas e más situações vividas por ela. (Há que ser trabalhada.) Óbvio que isso era tema de duas, no máximo, três sessões de psicanálise. No exposto aqui, essa característica (a radicalidade) deve ser considerada na questão como positiva e pertencente à pessoas extremamente intuitivas e dotadas de uma inteligência rara e não provinciana.
No afã de viver o novo, ela se deparara com um hipócrita. Simples assim. Encantador, sedutor, inteligente, mas ainda assim, um hipócrita da melhor qualidade. (ou seria mais adequado pior?) Dúvidas à parte, nada ou ninguém poderia separar-lhe dessa condição primeira em seu sub ser.
Essa criatura, vamos denominá-la aqui, simplesmente de “Batráquio”, espécie de vertebrado de pele nua e sangue frio. (Essa definição é perfeita!) Ele chegou-lhe de modo não usual e pouco menos de três horas tornara-se concreto e real. Antes ela tivesse seguido sua intuição, que teimava e teimava em dizer que, sapo só se torna príncipe em contos de fadas, de resto, continuam apenas anfíbios.
Batráquio admirara a inteligência sublimar dela desde o primeiro momento e, usara isso, a seu favor. Lógico que os dotes físicos como o colo bem delineado (e muito elogiado), os olhos vibrantes, os seios fartos, as coxas grossas, a ingenuidade quase infantil (que fazia dela credora do mundo e, isso, inclui os hipócritas), os cartões de crédito e a “gorda” conta bancária contribuíram para toda aquela boa impressão que ela causara nele.
Um presente valioso. Palavras bem estudadas e decoradas a cada conquista. Aquele sorriso malandro e charmoso. O dedo nas cicatrizes do rosto e pulso. Tudo isso, fora um tiro certeiro que a permissividade carente dela, deixara chegar ao seu coração pálido.
Batráquio teria vivido mais uma noite de luxuria na cama de mais uma mulher. Tudo que é acordado, não implica em mágoas futuras. Pessoas adultas sabem (quase sempre) resolver seu tesão sem necessariamente usar os outros. A história poderia perfeitamente terminar aqui. Mas não, todo o febricitante episódio está no porvir...
Além de tudo que já fora dito sobre ele, Batráquio tinha um sério complexo de inferioridade, tinha que se auto afirmar constantemente, talvez o que lhe fora negado na altura física pudesse ser suprido dessa maneira infame, nem que fosse usando o tom alterado da voz machista e arrogante.
Não satisfeito com a noite pueril, ele compartilhou os anseios (particulares) dela com um amigo especial, que claro, quis se aproveitar do bocado também. A extraordinária besteira desses dois foi se fazer um, o oposto do outro.
O “m”alandro e o “b”onzinho não sustentaram a bela estória por mais de uma semana. Os pontos contraditórios foram descobertos por ela, que não seguira a brilhante carreira de detetive particular.
Engano desfeito, ela usou o jogo a seu favor. Se era para ser hipócrita, seria com “catiguria”. Deu corda. Ambos se enforcaram. O riso sarcástico aos colocá-los “amigavelmente” frente a frente foi a vitória-mor. Estava vingada. (Sim, ela é como todo ser passional, vingativo.) Pronto, estava encerrado.
Aprendera com o espelho a renascer das cinzas, como uma Fênix gloriosa que saía da roda viva. A tristeza fora passageira, e, por fim, uma pedra colocada sobre o túmulo daqueles dois indigentes.
***
Passados alguns dias, talvez dezesseis anos (não metafóricos), dezesseis anos estes, que não foram capazes de separar uma amizade, ela ouvira que Batráquio espalhara o boato de sua loucura.(a dela)
Humm... juntou-se fogo à pólvora insana!
Uma coisa é ser louca pela vida. Outra coisa é deixar a vida transformar tudo em hipocrisia.
Uma coisa é ser louca pela paixão, deixar a loucura do desejo de dar e receber prazer envolver todos os poros e transformar a vida em vermelho vivo. Outra coisa é deixar a paixão pelo dinheiro alheio e fácil, tesar as frases feitas.
Uma coisa é uma coisa. E outra coisa sempre vai ser outra coisa.
Nada causava rubor embaraçoso à sua face. Não precisava encobri-la com um chapéu de gangster da cor castor para empalidecer a vergonha do que não era obsceno. Ela não se envergonhara de nada. A não ser, ter aberto as portas fraternais de sua amizade sincera, a um hipócrita que se esconde sob o codinome de um relacionamento aberto.
O valioso e bombado cristal se quebrara em menos de um mês... durara até tempo demais.
E ela descobrira o segredo que viajara através dos trinta e dois anos para encontrá-la:
Ela é a autora.
Ela é que escreve a própria história.
Ela é a projetista de seus sonhos.
A caneta está em suas mãos.
Ela é a arquiteta de sua alma.
O resultado será sempre o que escolher.
... e a caneta dela resolvera escrever a sua intensa loucura pelo amor, verdadeiro e simples, puro e sincero, mas nunca hipócrita. Fecha parênteses.
Fizera a catarse. Podia voltar a dormir tranqüila. Não importava se a cara fora quebrada ou uma lágrima fujona dera o ar de sua graça. Qualquer coisa que seja resultado do amor já vale a vida.
O resto? É comentário. Especulação.
Ela sempre vive o amor e paga o preço que ele custar. De preferência deixa o troco, mas nunca finge que esqueceu a lição do espinho.
***
Pessoas Lindas,
(e isso não é hipócrita... é o que penso das pessoas que dispensam seu tempo lendo meus humildes escritos.)
Segundo o pai dos curiosos, a hipocrisia é o ato de fingir ter crenças, virtudes e sentimentos que a pessoa na verdade não possui. A palavra deriva do latim hypocrisis e do grego hupokrisis ambos significando representar ou fingir.
Sim, assumo-me hipócrita em algumas situações. Mas sempre que me olho no espelho e vejo o rubor característico que me imputa vergonha de estar refletida ali, penso e procuro agir diferente.
Uma advogada linda, loira e lisa, a quem admiro muito, escreveu essa semana em seu blog (Linkado ali ao lado. Leia-se Veleidade) que existe uma grande diferença entre dizer, sentir e executar algo. Plagiando-a descaradamente, eu defendo o direito de todo mundo de criticar desafetos, ignorar a verdade e fazer do seu ponto de vista escroto uma verdade absoluta. Não vejo problemas nisso e me permito isso também. O problema é o danado do telhado de vidro que pode simplesmente se quebrar e tudo acabar num belo processo, né não? Risos
Portanto, cada louco com sua loucura. Sem hipocrisia. Melhor assim. Mais sábio assim.
Um fim de semana fabuloso para todos vocês!
Um feliz dia das Mães para todas as Mães de fato!
Beijo muito Karinhoso,
Ká (uma blogueira que pintou-se de vermelho para declarar ao mundo sua loucura pela vida!)