27/04/2008

Imagem

Como assim? Alto lá! Isso não está certo mesmo. Claro que você não sou eu. Ou melhor ainda, eu não sou você.

Ela dizia à imagem refletida naquele pequeno fragmento de espelho. Naquele contexto irreal, parecia que a imagem travava uma conversa com ela.

“Lógico que não. Sou apenas uma imagem.”

Ah, sim. Mas não deveria ser a “minha” imagem? A imagem de mim?

Não se conformava com a imagem que via. Era totalmente o avesso do que era. Seus olhos não eram mais vivos e amendoados. Eram foscos. O rosto revelava a frieza de quem não se importava mais com nada ou com ninguém. Os lábios não sorriam o sorriso aberto e feliz.

“Quem lhe garante que não sou?”

Não entendia mais nada. Uma hora estava latejando vermelho, noutra era aprisionada pela imagem do caco de espelho. Sim, o espelho continuava ali. Mesmo que em cacos.

Não, não é. Definitivamente você não é a minha imagem.

“Pois posso muito bem ser a imagem que você gostaria que eu fosse. Ou até mesmo a imagem que quer que eu seja. Como também posso não ser a imagem que você gostaria que a revelasse.”

Imagem filosófica? Em que espelho teria perdido minha face? Não resisto a tantos pontos. De interrogação.

“Rá.-rá, rá! Toda imagem é isso: simples e pura filosofia. Reflexo do eu, do outro, de como nos vemos ou gostaríamos de ser vistos. E antes que se questione mais: sim, eu leio seus pensamentos.”

No berço daquela solidão que durava vinte meses e sete dias, confundia-se entre realidade e fantasia. Ela acreditava mesmo que tinha criado uma companhia metafísica.

“Embarque. Aperte o sinto e vá em busca do reflexo perdido. Não perca mais tempo. Essa é a hora.”

Revestiu-se de força. Aquilo já tinha durado tempo demais e ela não conseguira chegar a lugar nenhum. Quem sabe não era mesmo o momento de reescrever o passado ao invés de aprisionar-se em sua própria imagem do passado? O que foi, o que vivera, o que deixara de viver... tudo isso estava lá atrás. E a vida continuava aqui, bem na frente. Bem na sua frente. E não parava para esperar ninguém. Ela passava atropelando quem estivesse distraído, afinal o acaso não protegia ninguém.

A dor lhe trouxera revolta. A revolta lhe mascarara descrente, apática, cética e até mesmo inconveniente consigo mesmo e, muitas vezes, com os outros. Ao longo de cada dia foi criando um mundo onde não havia lugar para nada ou ninguém. Via tudo sempre às avessas. Tudo no lugar errado. Sempre com pessoas erradas e na hora errada.

A “imagem” talvez estivesse ali para tirar a sua máscara, jogar em sua cara as coisas que estava guardando para si, como num velho museu empoeirado de heranças que vinham sedimentando, fermentando o fel que já foi mel.

Então, ela embarcou no velho trem da vida. Urgia revelar as esfinges do amor que vivera. Não dava mais para sonhar acordada, procurando os olhos que se apagaram e não iluminavam mais sua vida. Seu desejo infindável era arrancar a esperança de voltar a viver o passado. Isso dilacerava seu coração pálido.

Nas voltas do trem, descobriu que o amor não é imortal. Um dia ele chega, mas noutro vai embora. Mas ela ficara. Isso era imutável. Isso restringia entre parênteses a sua vida e seus anseios. A essência daquele amor cessara. Sim, tinha chegado ao fim. Em seu coração poderiam viver as lembranças. Mas as lembranças não poderiam nortear sua vida.

Na última estação, chovia lágrimas em seu olhar. Seu luto não podia se estender mais, sob pena de complicar, de vez, todo o seu futuro e, o pior, tornar seu presente inexoravelmente sem cor.

Entendeu por fim que a paixão era inevitável. Entendeu que viver em paixão era vital. Saiu do espelho. Cortou-se. Pingaram algumas gotas de sangue (vermelho vivo). Percebeu que a dor é necessária para se viver, para se sentir e para (se) amar. A imagem que se refletia agora era a sua. Não estava pronta e acabada. Estava em erupção. Pronta pra jorrar lava flamejante. Em vermelho, de preferência.
***

Pessoas lindas,

Para vocês, desejo uma semana intensamente linda e cheia de vida!

"Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata. "

Clarice Lispector

Beijos meus!

23/04/2008

Vermelhou...

Ela sabia que o futuro é incerto, como é incerta a felicidade...

Tinha acordado cinza, sujeita a tempestades...

Vislumbrava o caminho que se abria e, sua vontade era ir... Sua vontade era navegar mares nunca antes explorados (por ela), buscar tesouros preciosos, reviver momentos gostosos, expurgar pesadelos reais...

Mas não adianta, tem que ser um passo, depois o outro. Uma coisa de cada vez. Tudo, tudo a seu tempo. Em seu compasso. Apressar ou delongar experiências não é o ideal.

Seu mundo de antes era povoado por pessoas especiais. Amigos daqui e dali. Pessoas que tinham o dom de tocar seu coração, de fazê-la sorrir e chorar. Refletir e repensar. Falar e agir. Renovar-se e viver... Não necessariamente nessa ordem.

Num dado momento, especificamente naquele em que o seus pés não tocavam mais o chão, que o mundo ruíra debaixo de sua prórpria cama, que seu umbigo deixou de ser o centro do (seu) universo e o redemoinho da vida fizera o maior de todos os furacões... nesse momento, tudo se perdeu. Os sons que antes animavam-lhe a caminhada, agora ressonavam, contudo seu coração não lhe devolvia o eco.

Até que... (todo conto que se preze, tem que ter um “até que...”) um pequeno e insólito raio de sol invadiu a pequena fresta da janela da sala de estar...
As nuvens começaram a clarear... o quebra-cabeça, com situações possíveis e claras, começou a se agrupar. As entrelinhas se escancaram. O ponto se fez quente, cheio de cor, de vida, de luz!!!

Ela percebeu uma oportunidade única. Ela se encantou. Ela sorriu. Pintou os lábios. De vermelho. Vermelho intenso. Cobriu-se de branco. Afinal sua “guerra era encontrar sua paz”... Latejou sentimentos aprisionados. Embriagou-se com alegria. Brilhou em amarelo. Encheu-se de verde. Os olhos da loba interior lhe devolveram o vigor da esperança.

Agarrou-se, com unhas e dentes. O tempo ruim devia ficar no passado. Agora, precisava celebrar com felicidade a magia da amizade, do bem querer, da paixão que teimava em brilhar em seus olhos. Sempre e apesar de tudo.
Tanto sacudiu, tanto esperneou, tanto desejou, tanto fez... que o espelho que a espreitava partiu-se em milhões de pedacinhos. Em cima do estilhaçado, ela caminhava. Sangrava. Não nos pés.

E isso não era ruim. Isso era um aviso intuitivo de que reagir era necessário. Era preciso A-COR-DAR!

Chega de apatia! A vida tem a cor que pintamos. Cada um pode construir seu próprio arco-íris. E a liberdade de escolha é o que torna a vida interessante. Ora assim, ora assado. Mas sempre do jeito que queremos, com as nuances que escolhemos.
Ela descobriu a verdade que a rodeava. Ela era inteira. Intensa. Ela se bastava sozinha. E isso não pode ser considerado egoísmo. Isso era apenas e somente a verdade.

Contudo e entretanto, ela gostava de ter alguém consigo. Do lado. Perto. Junto. Compartilhar era um remédio que necessitava. E, por isso, a sua alegria só estava completa quando podia DAR-COR à vida e caminhar de mãos dadas.

Era meio dia. A tempestade não viera. O tempo continuava nublado. Um frescor atípico dava um colorido à tarde que se anunciava. O almoço a esperava. Um sorriso a aguardava em casa. O mais lindo de todos. O mais compartilhado. Ela foi...

Tinha acordado cinza...
***
Pessoas,
Entrem sorrindo! Por favor!
A sua alegria quer dizer que você tem na alma: PAZ!!!
E no coração: AMOR!
Hoje, estou vibrando em AMOR! Vamos juntos?
ENTÃO... esse negócio de vibrar em amor, funciona, sabiam? Risos...
Sério mesmo. Hoje rebeci dois presentes.
Loba, querida... realmente incrível a "coincidência". Quis de maneira diferente lhe agradecer e ganhei mais ainda! Realmente o olhar de amigo é mágico! Amo muito você!
O outro presente, vocês têm que entrar aqui ó: http://epifaniasdeummenino.blogspot.com/
e ler! Eita presentão!!!
Rodrigo, desconcerto que conserta para sempre!
Amo você!
Beijo meu!

18/04/2008

Analfabetismo

Hoje o post é sobre construção. A mais importante de todas. A construção do Saber. Estou aqui pela proposta de blogagem coletiva contra o analfabetismo. Atendendo aos apelos desse coração de Educadora vou tentar não cair no lugar comum, no entanto, fica impossível não comungar com Monteiro Lobato quando ele diz que: “ Um país se faz de homens e livros.”

Sou Educadora e amo muito o que faço. Nasci assim. (Educadora não se faz com o estudo, nasce com o coração apaixonado pela Educação, é genético.) Vivo assim. (Apesar da luta que é viver de Educação no Brasil.) E quero morrer Educadora.

Abril é um mês de reflexões diversas. Hoje dia do Livro Infantil. Dia 21, dia de pararmos e pensarmos a liberdade com Tiradentes. Então, diga lá uma coisa, há melhor solução para se construir um país livre, digno e justo do que despertar o prazer pela leitura que é capaz de alargar horizontes e transformar realidades?

Definitivamente, não!

Acabei de chegar da escola onde trabalho. Os alunos, entre outras atividades, apresentaram uma dramatização, lembrando a grande obra de Lobato, o Sítio do Pica Pau Amarelo. Mais do que isso, eles, que na grande maioria das vezes são desmotivados para a leitura, optando sempre pela facilidade e encanto sedutor da internet, mergulharam nesse universo vasto e questionar que nos foi legado por esse singular escritor e, de fato, leram diversas histórias e foram além. Pontuaram o que foi escrito com o que vivemos hoje.

Houve uma grande discussão sobre o analfabetismo. Sugerimos que cada um pense numa solução para que possamos levar luz à escuridão do desconhecimento pelas letras. (Posto depois o que sairá de tais cabecinhas.)

Estar numa escola, atuar nessa área é uma oportunidade ímpar de plantar pequenas sementes que, de forma efetiva, gerem frutos positivos para transformar o analfabetismo no Brasil. A EJA (Educação de Jovens e Adultos) é um exemplo de que cedo ou tarde, há tempo de plantar sonhos e com isso, colher cidadania.

Ao longo da minha vida de Educadora, venho semeando. Muita gente me acha utópica. Eu prefiro acreditar que é possível, de maneira simples, colher bons frutos.

Minha sugestão de combate ao analfabetismo é o engajamento de todos. Professores, médicos, advogados, donas de casa, enfim, cada um de nós fazer a sua parte. Ações voluntariadas do despertar para o letramento (mais do que ler é preciso interpretar o mundo e interagir nele).

Cada um pode se comprometer a ensinar o outro. Patrão alfabetizando e letrando o empregado. Criação de espaços de leitura nas empresas. Enfim, é preciso apenas fazer.

Ressalto aqui a iniciativa do poder público na capital mineira, onde os lotações estão providos de obras literárias (xerocadas e plastificadas) onde o cidadão pode apreciar uma boa leitura. Certamente, no mínimo, gera curiosidade em quem não é alfabetizado. Isso pode instigar, pode levar à busca de descobertas.

É isso aí! Simples assim!

15/04/2008

Re...descoberta

Desperta, sentiu-se segura para enfrentar o mundo. (Era preciso?)

Vestiu sua melhor roupa. Um vestido meia estação. Xadrez. Marrom e lilás. Cinto delineando a fina cintura. Cintura de Pilão, dizia sua mãe. Meia fina a lhe cobrir as pernas grossas. Sapatos de bico fino a deixavam mais elegante. Maquiou-se. Era bom que o mundo a visse de máscara, mesmo que fosse a do Avon. (Não entendo essa vontade de ser outra para o mundo).

Ototemo foi a fragância azul escolhida para perfumar aquele dia. Estava pronta. Despediu-se de si. Fechou a porta atrás. Trancou-a. Desceu as escadas. A máscara da elegância lhe dava novo vigor. Era capaz de enfrentar todos os dragões daquele dia.
Os olhares da rua lhe faziam bem. Sentia-se confiante. Em cima dos quase 15 centímetros que lhe separavam do chão, era rainha.

O som dos seus passos sedutores aproximou-se do carro. Entrou. Encontrou o CD que regeria o momento. “Déjà Vou- Pitty”, foi o escolhido. Sim, o timbre era perfeito. O som das batidas sem igual.

Nenhuma verdade a poderia machucar. (Não? E se lhe dissessem que não era amada, querida?) Nenhum motivo poderia corroer-lhe. (Nem mesmo a falta de amor?). Ficar só na vontade nem faria doer-lhe a alma. (A quem queria enganar?) Doutrina alguma a convenceria. (Talvez fosse esse o maior vazio de sua vida, a falta de Fé...) Nenhuma resposta a satisfazia. (Sim, isso era um fato. A procura era por respostas mais profundas.)
Nem mesmo o tédio a surpreendia mais. (Mentir para si mesmo não era o melhor remédio. Naqueles momentos em que estava frente ao espelho, o tédio se agigantava e lhe fazia chorar muito. E como ela chorava bonito. (É possível?).
Nenhum sentimento comovia seu coração gelado. (Pior cego é aquele que não quer ver. Havia sim, em algum lugar, sentimentos que lhe faziam bem.)

Os acordes melodiosos enchiam o carro. Passeavam por seus lábios. Qualquer um que a visse, a acharia forte. Sim, era preciso passar a idéia de fortaleza.(Por que?) Os outros simples mortais não podiam julgá-la humana. Não havia lei que a governasse nem razão que a guiasse. Ela estava exatamente onde queria estar. (Será?)

Algumas curvas depois, chegou ao destino. O trabalho, antes contagiante. Agora, só mais uma obrigação. Freou. Desligou o motor. Acionou o freio de mão. Olhou-se no retrovisor. Perfeita. Desceu do carro. A cena era cinematográfica. As pernas grossas atraíam olhares. Fez que não percebeu. Manteve-se em cima do salto. Na bolsa lilás pegou as chaves. Antes que pudesse abrir o portão, pingos de chuva molharam-lhe o rosto. Aquiesceu, obedientemente. Fazia algum tempo que a água fria não tocava seu corpo. Abriu os braços. Respirou o cheiro de terra molhada. A fina chuva era um verdadeiro dilúvio na alma. Olhou para a esquina. Correu até lá. Sentiu-se VIVA. Rodopiou na chuva, feliz!

Voltou ao portão e, dessa vez, o abriu. Trabalhou sem maquiagem durante todo aquele dia. Não tinha pressa nenhuma. Nem vergonha.
Pela primeira vez, não se incomodou com os olhares alheios. Era igual ao resto do mundo.

Um ser humano se (re)descobrindo.


Pessoas,

Estou amando voltar ao mundo blogueiro. Sentir a alegria de escrever, a ansiedade pelos comentários, a felicidade de fazer novos amigos e constatar que os velhos são muito queridos.

Entrem, se acomodem, sintam-se em casa... sempre!

Beijos meus! Hoje, azuis!

P.S.1: DIA 18 DE ABRIL, SE LIGA NESSA!








O link para participar é:


http://meiroca.com/2008/03/25/o-que-voce-faz-para-acabar-com-o-analfabetismo-no-brasil/


P.S.2: A CULTURA PEDE SOCORRO!

Precisamos divulgar o site do Ministério da Educação onde temos 732 obras disponibilizadas para leitura gratuita. O site está para ser desativado por falta de uso!

ACESSE E DIVULGUE: http://www.dominiopublico.gov.br/