25/06/2012

Do Amor que chegou para ficar.


“Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca [...].”


Depois de tudo que vivera, sofrera e chorara, o riso fácil voltara. Junto com ele, o amor pulsava dentro do coração nada pálido que batia descompassado.

Sonho. Magia. Paixão. Intensidade. Tudo que a ela mais agradava. Sobressaltos ternos a tiravam do emaranhado burocrático da vida real.  O calor percorria seu corpo e vibrava em seu peito. 

Tudo perfeito. Tudo divinamente perfeito.

Mas, nos entretantos da estrada, havia um ponto de interrogação. Tanta felicidade seria possível a um ser imperfeito e inacabado como ela?  O céu não era mais de outono. Era céu de inverno. O azul não era mais tão azul. Mais uma vez, ela era posta à prova, interpelada pelo semovente da vida.

Constitucionalmente, lhe era assegurado o direito à felicidade. Contudo, socialmente lhe era cobrado e, caro, por ser feliz. Os outros e ela mesma se fazia tal cobrança insana.

Sair da magia e alcançar o patamar de vida real. Tirar a maquiagem, estar de cara limpa, dar à cara à tapa e ao amor não é tarefa simples. Equilibrar-se entre o ideal e o real exige um esforço enorme. Conseguir enxergar que na vida real existe imperfeição e nada é como nos sonhos é uma missão ingrata. 

Era um daqueles anos desabrigados pelo qual ela passando.  Ter o amor como presente, além de parecer irreal, assemelhava-se à uma das peças que a vida gostava de lhe pregar: entregando-lhe um precioso bem para depois furtar-lhe num repente. 

Pensando em não deixar-se afogar nas afrontas da vida, começou, como de costume, a mostrar sua face defensiva. Ao sentir-se acuada, acabava magoando os outros. A explicação é bem simples: antes que a vida lhe fizesse sofrer, ela mesmo, prontamente, se fazia autora desse sofrimento. Auto defesa que poderia facilmente ser sinônimo de auto e alta flagelação.

Todavia, o brilho dos olhos dele e, principalmente, a voz, ao mesmo tempo doce e firme ,lhe fizeram ouvir o que a alma falava: tudo é passível de mudança, as pessoas se transformam todo o tempo e o tempo todo. Impedir a própria felicidade é tolice, é deixar que algo menor tome o lugar de algo maior, mais importante, mais bonito. Isso não tem força de lei, portanto pode e deve ser revogado. 

Ela, então, abriu os ouvidos, todos eles. Principalmente os da alma para ouvir e sentir o que era melhor. O melhor era viver intensamente cada momento ao lado dele. Sentir o amor e deixá-lo crescer, criar raízes e frutificar. Enfim, era mister que ela se reconciliasse com o processo da vida, para segurar forte aquela mão especial e permitir-se ser vista em sua face mais meiga e doce, sua real natureza. Não era preciso ser leoa, se auto defender o tempo todo, ele estava no mesmo time, pronto para lhe passar a bola para o melhor e maior de todos os gols: o amor dos dois!

Relaxar era a palavra de ordem. Nãos e precipitar. Deixar o tempo ninar os sonhos a dois. Tocar o barco segurando firme no leme. Confiar na segurança da mão intercalada à sua. Respirar o afeto que os circundava. Inebriar-se na sintonia formidável com a qual ambos foram brindados. 

Sim, era possível se transformar em paz, viver a paz e trazê-la sempre junto consigo. Ainda que as dificuldades existam, é bom enxergar a margem florida da estrada. Sentir o frio do inverno e aquecer-se por inteira no calor de cada momento vivido ao lado dele, afinal “só que é morto não muda!” 


A alegria está em ser salva pelo amor, sem o qual a vida não vale a pena. A alegria não está em explicar o amor, mas em apenas e simplesmente vivê-lo.