Pessoas Lindas,
Fiquei muito feliz com o belo presente que recebi da Andréa Motta: o "Prêmio Dardos". Agradeço-lhe de coração pelo carinho comigo e com esse humilde espaço que existe exatamente para alegrar meu coração, trocar idéias e acrescer meu mundo de amigos.
"Com o Prêmio Dardos, se reconhecem os valores que cada blogueiro mostra cada dia em seu empenho por transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc..., que em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras."
O Prêmio Dardos tem certas regras:
1. Aceitar exibir a distinta imagem.
2. Linkar o blog do qual recebeu o prêmio.
3. Escolher 15 blogs para entregar o Prêmio Dardos".
Então para compartilhar esse prêmio comigo, escolhi amigos(as) MUITO ESPECIAIS (amigos(as) de velha data, atuais e promissores):
São eles(as):
DORA VILELA - Pretensos Colóquios
FABI - Quase Trinta
SÔNIA - Pérolas de Pérola
AUTOR - Confissões a Esmo
CLECIA - Meu Mar Azul
TATI - Veleidade
MÁRCIA - A Vida é como uma Rosa
SHI - Putitanga
JANAÍNA - Alfarrábio
CRYS - Jardim de Letras
MIGUEL - Prosa e Verso
EUZA - Loba
JENS - Toca do Jens
EDU - Casado(i)s
SILVIO AFONSO - Prosa e Verso na foto
PATRÍCIA GOMES - Alma do meu sonho
DÉBORA BELLENTANI - Escritora Caipira, um dedo de Prosa
ANINHA, PRI, MÁRCIA, SHU, RÊ, GGEL, CAROL, KÁTIA - 7 x 7
***
Abaixo, a derradeira parte do meu conto.
Meu beijo muito Karinhoso a todos!
Ká
***
LUCIDEZ
A pesadíssima embriaguez turvava ainda mais sua visão que se confundia com lágrimas que cortavam aquela face bonita mais do que uma faca bem afiada. Voltava da balada. Música bacana. Ambiente bacana. Pessoas “bacanas”. Tudo deveria, teoricamente, estar bacana... mas, seu coração estava dilacerado. Machucado, ferido por demais. Por todos e, principalmente por ela mesma.
As mãos mantinham-se firmes na direção. Os pés aceleravam até o ponto em que seu bom senso (se é que ainda tinha algum) ordenava. Nos lábios, só xingamentos. Palavras tortas. Palavras feias. Palavras vis. Não acreditava que tinha vivido tudo aquilo. Não acreditava que tinha se submetido a tal situação. Não acreditava que tinha chegado ao fundo do fundo do poço.
Cansada, não de dançar, mas de sofrer. Cansada, não da balada, mas da forma como se deixava embalar. Cansada da maquiagem pesada que não conseguia esconder a dor dos seus olhos. Cansada de se enganar. De fantasiar a ilusória de que tudo seria como antes: romântico, feliz, pleno. Cansada, muito cansada, encontrou finalmente a garagem do prédio. Sem saber como, estacionou. Faróis desligados, depositou o rosto choroso sob o colo. Alguns minutos depois, recostou-se então no banco, procurando conforto. Um suspiro de imensa insatisfação saiu de seus lábios.
Seus olhos encontraram o céu. Algumas estrelas cintilavam na madrugada cálida. Quem a vida pensava que era? Quem lhe dera tanto poder assim para lhe dizer tudo aquilo? Que tipo de arrogância era essa que jogara-lhe na cara o que ela não queria ouvir? Descera do carro. Caminhava a esmo. Passos atarantados levaram-lhe até seu apartamento. Livrou-se dos sapatos. Deixou seu corpo cair no sofá. Abraçou-se a uma almofada. Chorou copiosamente.
Levantou-se. Foi para o quarto. Livrou-se das roupas. Sentou-se frente ao computador. Pôs-se a escrever. Uma procissão de palavras desacertadas caminhavam entre seus dedos e a tela do micro. Era preciso ordenar as idéias. Era necessário encontrar-se naquele tufão de pensamentos atordoados. No fundo, a vida lhe dera mais uma chance de re-escrever aquela história. A sua história. A vida lhe mostrava a raiz das coisas. Isso lhe causava perplexidade.
Por caminhos fantasiados, caíra num destino inventado. Isso lhe era muito cômodo. E durante toda a sua vida, procurara a comodidade de estar segura num mundinho trancado e feliz. Numa redoma intocável que infelizmente (ou não) quebrara e lhe colocara frente a frente com o mundo real, com verdades, às vezes, sensatas, às vezes, cruéis e, outras tantas vezes, apenas verdades indispensáveis.
Incapaz de continuar a escrever, deixou-se ficar parada, imóvel, jogada naquela cadeira. Impossível precisar o tempo em que ela ficou ali. O corpo em silêncio, porém os pensamentos invisíveis saltavam barulhentos e faziam piruetas dentro daquela cabeça que buscava apenas entender e, sobretudo, aceitar aquela ausência inadmissível, intocável, inassimilável e instransponível... dentro daquela cabeça, era importante compreender que a vida é uma constante, e, que não pára e não fala mansinho, muito menos enxuga as lágrimas das pessoas... dentro daquela cabeça era essencial aceitar e aprender a conviver com as novas presenças que lhe eram impostas... dentro daquela cabeça era vital necrosar definitivamente o passado.
Aprumou-se ainda pálida. Uma expressão de rosto ressurgia ainda incerta e incompreensível. Talvez ela já tivesse entendido. Talvez ainda fosse preciso mais e mais reflexão.
Um mal-estar apoderou-se de seu corpo. Começou a se sentir incomodada com a resposta do seu organismo à grande quantidade de álcool ingerida. Uma ânsia percorreu suas entranhas. Vomitou então suas tristezas e angustias, sua raiva e seu medo, vomitou tudo aquilo que, por tempos e tempos, lhe sufocava.
Fora tão grande seu esforço... fora tão intenso seu vômito... que ali adormecera...
Sonhou. Sua urgência era ser entupida com a presença de quem se foi. Ter de novo, o amor de sua vida, sua carne, seu osso, seu nome, sua voz... Gritou aos quatro ventos. Urrou pelas trevas daquela ausência sem fim. Buscou a noite que a nutria de insônia. Esqueceu todos os conselhos e seguiu por caminhos escuros. Passeou pelos desacertos de estranhos desertos.
Ignorou todas as regras. Puniu-se sem piedade. As armadilhas da vida lhe pegaram. Prenderam-na dentro do espelho. Não cabia mais em si. Ela transformou-se em muitas almas desorientadas. A criança. A filha. A irmã. A amiga. A prima. A menina. A moça. A mulher. A mãe. A esposa, a viúva...
Encostou sua face com a face do escuro. O medo regia seus atos. Estava abandonada, desordenadamente jogada a sua própria sorte. Presa dentro de si. Seus dedos procuravam a saída. Um mar de lamentações e remorsos fizeram seu coração mitigar suas dores sem curar a causa mãe de tudo. Os reflexos dentro do espelho eram imprecisos. Lutava corpo a corpo consigo mesma. Com suas várias faces.
Um silêncio invadiu o espelho. Nada mais era ouvido. Nem um sussurro. Nem o barulho do vento. Nem a própria respiração. De repente, uma vozinha mansa começou a falar baixinho. Era a voz perenizada de sua consciência. Meticulosamente, sua consciência conseguiu fazer uma mixagem de diálogos vividos. A pressão dentro do espelho era maior do que se podia agüentar. Um estrondo e tudo voou pelos ares. Não restara pó sob pó.
O mito perigoso que induzia seu pensamento e norteava seu comportamento fora destruído. E junto com ele o medo de viver. A insegurança de se assumir enquanto mulher dona de seu próprio nariz. Dona de sua própria vida. A anistia tão esperada chegara ao coração dela. Era a despedida de si.
As mãos mantinham-se firmes na direção. Os pés aceleravam até o ponto em que seu bom senso (se é que ainda tinha algum) ordenava. Nos lábios, só xingamentos. Palavras tortas. Palavras feias. Palavras vis. Não acreditava que tinha vivido tudo aquilo. Não acreditava que tinha se submetido a tal situação. Não acreditava que tinha chegado ao fundo do fundo do poço.
Cansada, não de dançar, mas de sofrer. Cansada, não da balada, mas da forma como se deixava embalar. Cansada da maquiagem pesada que não conseguia esconder a dor dos seus olhos. Cansada de se enganar. De fantasiar a ilusória de que tudo seria como antes: romântico, feliz, pleno. Cansada, muito cansada, encontrou finalmente a garagem do prédio. Sem saber como, estacionou. Faróis desligados, depositou o rosto choroso sob o colo. Alguns minutos depois, recostou-se então no banco, procurando conforto. Um suspiro de imensa insatisfação saiu de seus lábios.
Seus olhos encontraram o céu. Algumas estrelas cintilavam na madrugada cálida. Quem a vida pensava que era? Quem lhe dera tanto poder assim para lhe dizer tudo aquilo? Que tipo de arrogância era essa que jogara-lhe na cara o que ela não queria ouvir? Descera do carro. Caminhava a esmo. Passos atarantados levaram-lhe até seu apartamento. Livrou-se dos sapatos. Deixou seu corpo cair no sofá. Abraçou-se a uma almofada. Chorou copiosamente.
Levantou-se. Foi para o quarto. Livrou-se das roupas. Sentou-se frente ao computador. Pôs-se a escrever. Uma procissão de palavras desacertadas caminhavam entre seus dedos e a tela do micro. Era preciso ordenar as idéias. Era necessário encontrar-se naquele tufão de pensamentos atordoados. No fundo, a vida lhe dera mais uma chance de re-escrever aquela história. A sua história. A vida lhe mostrava a raiz das coisas. Isso lhe causava perplexidade.
Por caminhos fantasiados, caíra num destino inventado. Isso lhe era muito cômodo. E durante toda a sua vida, procurara a comodidade de estar segura num mundinho trancado e feliz. Numa redoma intocável que infelizmente (ou não) quebrara e lhe colocara frente a frente com o mundo real, com verdades, às vezes, sensatas, às vezes, cruéis e, outras tantas vezes, apenas verdades indispensáveis.
Incapaz de continuar a escrever, deixou-se ficar parada, imóvel, jogada naquela cadeira. Impossível precisar o tempo em que ela ficou ali. O corpo em silêncio, porém os pensamentos invisíveis saltavam barulhentos e faziam piruetas dentro daquela cabeça que buscava apenas entender e, sobretudo, aceitar aquela ausência inadmissível, intocável, inassimilável e instransponível... dentro daquela cabeça, era importante compreender que a vida é uma constante, e, que não pára e não fala mansinho, muito menos enxuga as lágrimas das pessoas... dentro daquela cabeça era essencial aceitar e aprender a conviver com as novas presenças que lhe eram impostas... dentro daquela cabeça era vital necrosar definitivamente o passado.
Aprumou-se ainda pálida. Uma expressão de rosto ressurgia ainda incerta e incompreensível. Talvez ela já tivesse entendido. Talvez ainda fosse preciso mais e mais reflexão.
Um mal-estar apoderou-se de seu corpo. Começou a se sentir incomodada com a resposta do seu organismo à grande quantidade de álcool ingerida. Uma ânsia percorreu suas entranhas. Vomitou então suas tristezas e angustias, sua raiva e seu medo, vomitou tudo aquilo que, por tempos e tempos, lhe sufocava.
Fora tão grande seu esforço... fora tão intenso seu vômito... que ali adormecera...
Sonhou. Sua urgência era ser entupida com a presença de quem se foi. Ter de novo, o amor de sua vida, sua carne, seu osso, seu nome, sua voz... Gritou aos quatro ventos. Urrou pelas trevas daquela ausência sem fim. Buscou a noite que a nutria de insônia. Esqueceu todos os conselhos e seguiu por caminhos escuros. Passeou pelos desacertos de estranhos desertos.
Ignorou todas as regras. Puniu-se sem piedade. As armadilhas da vida lhe pegaram. Prenderam-na dentro do espelho. Não cabia mais em si. Ela transformou-se em muitas almas desorientadas. A criança. A filha. A irmã. A amiga. A prima. A menina. A moça. A mulher. A mãe. A esposa, a viúva...
Encostou sua face com a face do escuro. O medo regia seus atos. Estava abandonada, desordenadamente jogada a sua própria sorte. Presa dentro de si. Seus dedos procuravam a saída. Um mar de lamentações e remorsos fizeram seu coração mitigar suas dores sem curar a causa mãe de tudo. Os reflexos dentro do espelho eram imprecisos. Lutava corpo a corpo consigo mesma. Com suas várias faces.
Um silêncio invadiu o espelho. Nada mais era ouvido. Nem um sussurro. Nem o barulho do vento. Nem a própria respiração. De repente, uma vozinha mansa começou a falar baixinho. Era a voz perenizada de sua consciência. Meticulosamente, sua consciência conseguiu fazer uma mixagem de diálogos vividos. A pressão dentro do espelho era maior do que se podia agüentar. Um estrondo e tudo voou pelos ares. Não restara pó sob pó.
O mito perigoso que induzia seu pensamento e norteava seu comportamento fora destruído. E junto com ele o medo de viver. A insegurança de se assumir enquanto mulher dona de seu próprio nariz. Dona de sua própria vida. A anistia tão esperada chegara ao coração dela. Era a despedida de si.
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