04/08/2008

Despedida


E ela volta a escrever no plágio a Lispector procurando entender, buscando reproduzir aquilo para o qual não há reprodução, tentando sentir até o último fim o sentimento que permanece (até quando?) vago e sufocador...

Chegou em casa, mais uma vez... sua rotina dos últimos meses era mescla de alto e baixo astral. (Não é essa a mesma rotina do resto dos mortais?)

Num dia, era puro êxtase, brincava com a noite, dançava de mãos juntas com a vida, brindava com a alegria efêmera, embriagava-se no torpor que lhe causava a sensação de que o mundo podia acabar-se lá fora... ela queria apenas festa... vida, em seu coração. Nesses momentos, se alguém conhecido a visse, certamente jamais imaginaria que a máscara social estava sendo ali usada para que assim pudesse atravessar os dias sorrindo...

Noutro dia, (ah, como seria bom se só houvessem dias de sol...) a briga interna era uma tortura. Seu corpo só queria cama (não no sentido bíblico) só queria dormir, tomar algo que levasse ao passado, (como é difícil dribá-lo e esquecê-lo! Será impossível?). Classificava tais dias como dias de solidão dos silêncios imensos, onde a alma ficava hipersensível e aberta a todas as vibrações, tudo lhe fazia sofrer, qualquer palavra podia ser mal interpretada e causar um mal estar tremendo.

Os sentimentos correm dos dois lados, intensos e desarvorados. Ora alegria. Ora tristeza. Ora euforia. Ora melancolia. Ora isso... ora aquilo... o que incomodava à ela era a intensidade. Tanto a tristeza era descomunal como a alegria gigantesca. Coisas boas e ruins acontecem a todos indistintamente e, o grande objetivo dela era entender e conviver com isso.

Sua lucidez era louca, a inconstância permanente, a inquietude envolvia a sua comodidade. Pintava a realidade com alguns sonhos água com açúcar, alguns transformavam-se em cenas concretas.

Apenas uma amiga decifrava suas lágrimas. Algumas vezes, chorava lágrimas que desabrochavam em sorrisos, outras, chorava pra valer sem derramar uma única gota de lágrima.

Sempre amou mais do que podia, e, claro, por medo, menos do que a capacidade do seu coração. Uma característica marcante é a entrega. Ela sempre se entrega e se atira de cabeça, contudo, quando recua jamais volta atrás, mesmo quando percebia que o erro podia ter sido seu.

Autêntica, mesmo que sua franqueza causasse mal estar. Ela sempre fora solícita aos apêlos do seu coração, porque para ela, nada podia ser mais fiel que ele. E por isso, mesmo... seu coração agora lhe aconselhava à liberdade total e irrestrita. Nada dessa história de colocar um amor para curar o outro. Isso podia funcionar na ficção ou na vida dos outros, na dela, nunca dera certo.

O momento pedia uma despedida. Uma grande despedida. Despedida do passado. Despedida do amor que passou. Despedida da pessoa que era enquanto vivia o amor passado. Precisava urgentemente, arrematar a aquela história (linda) dentro de si.

Não havia mais espaço em seu coração para as lembranças ou as saudades. Seu coração precisa desconstruir-se, re-descobrir-se, deixando as sombras do passado no passado.

Outro tempo descortinava-se para ela. Se seria bom ou ruim, não podia responder. Não, agora. Entretanto, precisava ser vivido intensamente.

Marcara a data e a hora para se libertar do passado. Não pedira licença à vida para isso. Apenas decidira e pronto: meia noite e quarenta e cinco minutos do dia vinte de Agosto de 2008.

Esse era o dia. Essa era a hora. A hora da despedida de si mesmo.